quarta-feira, 25 de abril de 2018

era como se milhares de lâminas atravessassem seu corpo.
o primeiro beijo passando em looping em sua mente. fica comigo, ela dizia. estamos juntos, ela dizia.
estavam. até que não estavam mais.
quando foi que o amor virou apatia?
ouvia dizer que a tristeza significa que não houve tempo desperdiçado.
agora ela só conseguia se lembrar dos sorrisos durante os cafés da manhã compartilhados na mesinha, com os gatos puxando a toalha.
foi ela mesma quem tomou essa decisão?
as longas noites de música, gin tônica e sexo. dá pra ficar embriagado de sexo? os dois haviam sentido a mesma embriaguez, numa entrega sem precedentes.
ele a esperava com um chá de gengibre, para que se sentisse melhor da gripe.
ela, com o coração já partido, tomava o chá e dizia que precisava ficar sozinha.
a dependência dele a incomodava um pouco. sufocava, talvez.
ansiava que ele fosse completo, assim como ela, para que então pudessem caminhar juntos - como dois.
um dia ela admirou aquela felicidade quase infantil. sorriso de neném, ela dizia.
"este rompimento é a vitória do nosso amor, não a derrota." não se lembrava de ter visto nele essa lucidez.
o desejo era claro ali. se abraçaram. se beijaram.
se despediram.
hasta siempre, ele disse.
era como se milhares de lâminas atravessassem seu corpo.

Um comentário:

Lígia disse...

Que maravilhoso! Estou arrepiada.
Na dor existe beleza. Obrigada por dividir.